Foi estranho, viver ignorado, negado por todos e amado por nenhum; trajar caminhos negros, escuros enquanto outros, cujo seu Deus os abençoou, estavam aconchegados por seus pais a sonharem com histórias de encantar.
Revoltei-me, assumi formas e imagens que nem sempre foram as mais correctas e ortodoxas, mas foi a minha forma de o fazer, e não me podem julgar por isso.
Formei então o monstro que diziam que eu era e, ironia da vida, era-o mesmo, era assim que eu era, é assim que eu sou.
Chefiei muitas lutas, onde ganhei muitas, e perdi tantas mais, sofri despedidas dolorosas, conheci pessoas fascinantes, ignorei, amei e odiei.
Durante esta vida, não houve paz, não houve sorrisos nem tranquilidade. Houve lágrimas, gritos, e dor.
Amores falhados, amigos traidores, família disfuncional.
Mas, apesar de tudo, continuei, nunca desisti, a minha arte completa-me.
Agora, que estou a recordar tudo isto, as lágrimas tingidas de negro escorrem até se diluírem com o sangue derramado pelas furiosas feridas nos meus braços.
A tesoura, esta que me tirou o sangue delicadamente, agora faz cair grandes madeixas de cabelo na poça de lágrimas ensanguentadas. Este círculo vicioso de auto-destruição em estado puro, não acabará. Irá agravar-se, até que sete perfeitos palmos de terra caiam sobre mim.
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