O dia era brilhante, naquele final de tarde. A lápide, encontra-se agora bem à sua frente. Fechou os olhos, invadida por lembranças, sentiu o peito doer e franziu a sobrancelha. Odiava lembrar-se da sua morte. Abriu os olhos e mirou a lápide. Rosas, que outrora foram de um intenso vermelho vivo, agora estavam secas, sem vida, como se toda a tristeza que emanava do local sugasse a sua cor. O dia morria e sentia aquele sentimento dentro dela morrer um pouco mais, cada vez que lia e relia aquele maldito pedaço de pedra. Dois dias. Dois longos e torturantes dias. Parecia tão pouco, mas naquela maldita e cruel realidade, era tanto. Suspirou. Estava morta e agora não havia mais nada a fazer. Sentiu uma mão na sua e virou-se. Encontrava-se um homem, bem à sua frente, olhando-a com um olhar misterioso, sem que ela conseguisse descodificar os sentimentos presentes nele. Estava elegante usando um casaco que lhe dava pelo joelho preto e branco, os seus cabelos negros e longos encontravam-se soltos, e uma rosa de um vermelho vivo encontrava-se no seu bolso, dando um pouco de vida aquele seu corpo cadavérico. Ele olhou timidamente para ela e disse: 'Vamos?'; ela mirou mais uma vez o seu túmulo, fechou os olhos, proferiu um último 'adeus' para aquela lápide e deixou um último beijo no ar para aquela pessoa tão querida, que em tempos de vida terrena fora ela. E virou-se completamente para ele. Ele sorriu-lhe, mostrando os seus caninos longos e mortíferos. Ela sorriu-lhe de volta, mostrando os seus próprios caninos, agora, longos e mortíferos como os dele. Ele puxou-lhe pela mão e saíram do cemitério. De mãos dadas timidamente. Um jeito tímido para dizer: “eu não quero te perder’".
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