20 de maio de 2011

Sabes?

Nunca te falei do sítio onde morava. Não te falei de quartos ensanguentados, das paredes de recusas e das janelas que abriam para todos os silêncios que se tornavam ensurdecedores. Nunca te falei das cartas rasgadas, do soalho já gasto por todos os passos de clausura, de todos os versos não visíveis que tatuei em mim. Nunca te falei de todos os modos em que me recriava em novas personagens para me esconder de mim. De ti. De nós.
Nunca te falei do sítio onde me encontrava, não te falei de como as minhas asas eram frágeis e de todas palavras negras que a todo o custo se disfarçavam de violinos para que não as reconhecesses como minhas.
Nunca te falei deste espaço que abriste furiosamente, nunca te falei de todos os segredos que as paredes deste espaço quieto sussurram, nem nunca te falei de quando abandonei as certezas e caminhei em direcção a ti. Porque tu não precisas de saber. Porque só tu me dás o encontro e o ser. Porque nunca te disse o quanto gosto de ti. Porque sei que o sabes. E se duvidares, pede-me um beijo. Só assim saberás o quanto gosto de ti.

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