Eram duas e meia da madrugada, e a insónia tomava conta de mim. Resolvi andar pela cidade, até o sono aparecer novamente. A cidade estava praticamente vazia e escura, num ambiente apocalíptico. Fui andando sem rumo, até que cheguei às margens do pequeno e profundo rio da cidade. Sentei-me na berma, numa fria pedra de aparência tumular, a reflectir sobre a vida, sobre as minhas frustrações e tristezas, nos amores perdidos, nas amizades tragicamente acabadas.
Horas passaram, e continuo sentado na margem do rio. Nem um pequeno sinal de sono. Até que senti uma mão gélida tocar a minha cintura. Olhei para trás, mas não havia vestígios de nenhum corpo palpável. Decidi pensar que foi apenas o vento frio que se fazia sentir naquela noite estranhamente fria de um Inverno eterno, onde um cheiro cadavérico era sentido por todos os lados. Alguns minutos passaram, e novamente senti a mão gélida, mas agora no meu pescoço, apertando-o com toda a força existente naquele corpo meio vivo, meio morto. Faltava-me ar, eu estava a morrer enforcado naquela forca demoníaca, e não havia ninguém ali, ninguém para me dar a mão durante os meus últimos pensamentos. Só no meu último minuto de vida me lembrei que aquele rio era assombrado por espíritos.
Depois do meu último pensamento, a falta de ar foi eterna.
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