10 de julho de 2012

Durante muito tempo este blogue fez parte de mim. Ajudou-me a conseguir exprimir o que sentia e, por vezes, a sentir-me compreendido e não tão sozinho no mundo.
Acredito que tudo tem uma duração e a do blogue terminou. Foi bom enquanto durou.
Podem-me sempre encontrar no twitter e no tumblr, onde posto frequentemente.
Quem sabe, talvez um dia volte a este meu cantinho, ou crie outro, mas por agora não faz sentido.
Obrigado a todos! :)

3 de junho de 2012

Vazio e Dor.

Deveria ser uma hora da madrugada. Ele estava preocupado com isso, com o perigo da noite, com o trabalho no dia seguinte. Sentado naquele banco, no meio da praça perto da sua casa, ele apenas sentia frio.

Tudo passava pela sua cabeça em pequenas proporções, aqueles problemas diários presentes na vida de toda a gente. Mas ele foi até lá para mergulhar noutra dimensão — mesmo que dissesse o contrário para si mesmo. Era fácil tentar convencer-se a si próprio que se sentaria ali, olharia para o céu e esvaziaria a mente; mas não, ele faria exactamente o contrário. Lágrimas já escorriam pela sua face pálida e o coração já batia penoso. Ele conseguia encontrar significados para o que sentia em quase tudo. As nuvens eram sombras, a lua era seu coração; as folhas das árvores eram o seu espírito, o vento era a sua dor. Ele pensava nas pessoas que, de uma forma ou de outra, o atormentavam. Chegou a pensar em como ninguém estava longe de tormentos em nenhum momento na vida. Desde os primeiros choros sem que ninguém adivinhasse qual era o seu problema, os esforços para aprender algo novo, até às primeiras paixões adolescentes que também traziam sofrimento.

Era sempre uma fila interminável de pequenos e grandes tormentos e preocupações.
Distraído, ele viu uma mulher passar um pouco a frente e a acrescentou à sua lista de pensamentos. O que estaria ela a fazer ali? A reflectir de mais, também?
 Na verdade, não. Ela não pensava em muita coisa. Saíra de casa há algum tempo e começou a andar sem rumo. Ela, sim, estava apenas a esvaziar a sua mente, mas não por que o desejaria: o vazio presente no seu peito criava também um vazio na sua mente.
Ela sentia um vazio. Não era total; não estava morta por dentro. Sabia que não. Mas não estava bem. Tudo foi cortado por metade: a felicidade, os sonhos e as preocupações. Ela nem fome iria sentir mais. A comida perdeu o sabor. Tudo perdera um pouco do sabor.
Achava que estava a lidar bem com tudo, com o que a vida lhe fez. Afinal, desde que tudo acontecera, ela sabia, com toda certeza, que conseguiria seguir em frente. Sabia que nem era tão mau quanto parecia, na verdade. Talvez nem fosse mau, talvez fosse apenas uma mudança incómoda. Mas percebeu que não estava bem: sentir-se vazia não é sentir-se bem. É estar meio morta. Na sua mente apenas flui uma pergunta: “e se tivesse sido pior?”. Estaria realmente morta por dentro? Isso era inadmissível. Ela tinha muito pela frente, não poderia simplesmente... simplesmente morrer.
Mas era difícil ultrapassar. Ela nem sabia como o fazer. Talvez tivesse de chorar mais... Talvez tivesse que gritar, explodir, deixar tudo sair... Mas isso não acontecia. Talvez seja por este motivo que as pessoas gostam de músicas que as deixam tristes, para não se deixarem afundar.
Ela não se iria importar mais. Se estivesse totalmente vazia não se importaria. Não se importaria em ficar doente, mas sabia que isso seria uma estupidez da qual ela se arrependeria mais tarde. Ela queria ignorar todas as pessoas e não se preocupar em magoá-las, mas sabia que precisava delas.
Ainda caminhando sem rumo, ela passou por um homem sentado num banco.
 Os olhares dos dois cruzaram-se. Ela viu a dor nos olhos dele, a intensidade do que sentia. Ele viu o vazio nos olhos dela, a simplicidade.
E cada um desejou ter o que o outro tinha.

29 de maio de 2012

Paranóia.


"They're laughing at you, all of them. They think you look weird. They think you look awful, like shit. They're laughing at you because you're ugly. They pity you. They're glad they are nothing like you at all, you freak."

1 de maio de 2012

Fobia.


A escuridão amanhece, aos poucos.
Os raios de luz negativa trespassam os vidros quebrados, a sombra disfarça as paredes da dor que me desperta... Os meus olhos pintados de negro, lentamente tentam romper entre a luz, os gemidos ainda se ouvem num eco murmurante de agonia e desespero... Os lençóis ensanguentados mancham o branco puro de luz e o meu corpo nu e frio esmorece lentamente.
A humidade do ar torna-se irrespirável, a cada segundo a respiração torna-se vital, e a realidade altera-se: estou a morrer entre quatro paredes.
Este estado febril distorce a realidade, risos e gritos parecem surgir das paredes vazias: as vozes são diabólicas e sussurram palavras que não consigo decifrar e a loucura parece possuir-me até que o amanhecer não volte, e as trevas deixem de reinar.
A porta abre-se, e entre a sombra aparece uma réstia de luz...
Tento levantar-me, mas as forças abandonam-me e caio inanimado numa espécie de coma imaginário... Sinto frio, muito frio.
As vozes despertam-me; gritam, sussurram...
Tento desesperadamente ouvir a tua voz entre elas, mas tornam-se tão silenciosas e o ruído das máquinas humanas ouvem-se algures desta janela.
Aproximo-me e vejo o mundo que me torna doente mas as luzes artificias já não me magoam... Desorientado, deambulo entre as ruas vazias de expressão, onde sombras formadas por luzes artificiais ganham rostos humanos cuja expressão é a de alguém que sorri doentiamente. Entre essa multidão de almas perdidas, eu procuro desesperadamente o teu rosto e desespero pela tua voz.
As luzes apagam-se e encontro-me de novo entre estas quatro paredes, com a porta trancada... Talvez nunca tenha abandonado esta cela e a demência me tenha levado até essa linha sem fim.
Estou a perder o controlo da vida e o som da minha voz parece surgir como um grito silencioso que desespera por ajuda.
A lua parece ouvir o meu chamamento e surge no céu mais bela que nunca e as estrelas no céu, ardem como um fogo interior que me desperta os sentidos e faz-me olhar um espelho que se fragmenta a cada mentira que vivo, até que se parte em fragmentos luminosos de sonhos de quem outrora ousara sonhar... Desisto da vida, e deito-me levemente, com a esperança de adormecer e não mais acordar. As marcas dos estilhaços marcam-me a pele e a dor é a única companhia que me resta neste acordar para morte.
É nesta linha sem fim, que o tempo e o espaço se cruzam, e despedaçam-me ao obrigarem-me a assistir à paragem do meu coração.
Ele bate desesperadamente como se tivesse vontade própria, uma vontade que não me move mas que comove... O frio congela-me e as minhas mãos abraçam-me e envolvem-me...
Parece que sempre fui eu contra o mundo e agora é meu próprio mundo interior que me corrói... Ouço uma voz sussurrar ao meu ouvido, essa voz adormece-me e promete: não vais acordar... Essa voz embala-me como uma mãe embala o seu filho, essa é a voz que me leva a vida de uma forma tão bela.
A voz parece tão distante que apenas a consigo imaginar...
Essa voz murmura: fobia...

24 de março de 2012

As Sombras.

Descrevo aqui palavras minhas em sentimentos teus...
As palavras, aqui representam o medo face a um espelho turvo, o medo de olhar um rosto gémeo cuja expressão é triste e o olhar vazio...
Sei que te deixas levar pela escuridão, ela protege-te do mundo em troca de tão pouco,
apenas a luz pela sombra e a cada respiração ela envolve-te, sufoca-te parecendo que te abraça...
A razão de existir vai esmorecendo até que o teu mundo interior se torne a terra do nunca, onde és livre, ganhas asas negras e voas, nele perdes-te e nele encontras-te,
nele encenas uma peça de teatro negro onde marionetas dançam para ti e te fazem sorrir.
Sei que esse mundo mantém-nos vivos na ilusão, mas um dia acordamos e os fragmentos desse mundo perdem-se na realidade...
Na terra dos homens, somos imperfeitos e aqui as asas negras não voam mais...
Aqui, apenas os amigos nos abraçam e nos levam a sorrir, aqui os anjos são reais e no limiar do sofrimento são eles que nos mostram essa terra do nunca...
Em tempos, essa escuridão prendia-me e hoje ela reina comigo entre palavras e olhares pintados de negro, hoje ela faz parte de mim e agora eu divido-a contigo...
Hoje, essa escuridão é falada através de palavras, as palavras que te escrevo dizendo que não estás só, pois nessa escuridão existem outros como tu!
Imagina essa escuridão, como um quarto escuro onde uma luz se acende e aí poderás ver que não estás só, pois contigo estão todos aqueles cujos sonhos passam pela existência de uma luz artificial, uma luz negativa cujo nome sombra é dado.
A mesma sombra que nos une sob o nome de amizade...

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17 de março de 2012

A Vida.

Seis anos. Há seis longos e míseros anos atrás. Um menino, demasiado crescido para ser chamado criança, demasiado medroso para ser chamado adulto. Desde cedo que nada foi fácil. Família disfuncional, mente perturbada e sociedade doente. Esse menino cresceu rapidamente, até que, com um corpo pré-adolescente a sua personalidade estava desenvolvida. Era adulto.
    Foi nesse momento que percebi tudo. E foi nesse momento que pus uma máscara no rosto. Essa máscara deu lugar a uma mísera mascarilha, substituída depois por uma mais mísera ainda, maquilhagem. O rosto era meu. O sofrimento no meu olhar era meu. E por isso, não o queria partilhar com ninguém.
     O doce sabor agridoce da anorexia do ponto mais extremo instalou-se em mim. A dúvida do sentido da vida, que não tinha sentido para mim, degradou-me cada vez mais até que as feridas não cicatrizassem. A culpa começa a surgir em mim, sob forma de largos e amargos cortes profundos na pele e no coração. As lágrimas desciam pelo meu rosto em abundância como o dilúvio do cataclismo final, do apocalipse sentimental do meu ser: o rapaz anormal, a mente perturbada apenas não queria a vida. Ou apenas não a queria como todos a vivem.
   Foi isso que descobri pouco depois. Descobri a liberdade, a identidade. A identidade de quem derrama sangue sem ferida e chora sem cair. A identidade de quem faz sexo e não amor. A identidade de quem erra, de quem se suicida aos poucos, sentimento a sentimento. A dor fazia-me sentir vivo. Que felicidade alguma vez o tinha feito? Entreguei-me então àquela que durante tanto foi a minha companheira – querida e leal, solidão.
   Essa minha identidade não conhecia o valor da vida humana. “A vida humana tem valor?” Ainda hoje julgo que não. A vida não era mais que fortes rajadas de dor física. Os violentos actos de auto mutilação faziam o meu sangue formar rios imaginários até a força desaparecer e um desmaio compulsivo irromper a minha sanidade.
   Do mesmo modo que a vida não tinha valor também as pessoas não o tinham.
   O desgaste psicológico levou ao desgaste físico. E a uma mente livre de clichés. A hipocrisia social que faz as pessoas acreditar que a vida é feliz… afinal, não nascemos e morremos a derramar lágrimas? Penso que nas nossas pouco desenvolvidas mentes infantis, sabemos no fundo o que nos espera. Claro, depois esquecemos, vivemos com todas as mentiras que a sociedade nos impinge. Isso não aconteceu comigo. A vida, para mim, é efémera, sem valor.
   Sou liberto de mentiras. Por isso, não minto. Assumo o que sou, uma pessoa que mata se necessitar, que pensa que sexo não é amor, que deus é uma estratégia de medo e que os humanos não passam de super predadores dotados de uma ignorância incrível.
   Agora, sou um homem. A vida assim me obrigou e nada me derruba. A dor é esmagadoramente omnipresente que nem sequer dou por ela e a mágoa, essa admito que existe, não cedendo à felicidade fictícia que a sociedade me fez acreditar em tempos, que tanto culpa e revolta me causou.
    Acredito no além. Mas isso, tal como tudo não é uma realidade boa. Nem sequer é má. É apenas uma realidade. Sou livre. Sou livre de pensamento, livre espiritualmente. Duvido que muitos possam dizer o mesmo. 
   Sim, sou estranho. Diferente. O problema do mundo talvez seja esse mesmo. Existem poucas mentes estranhas. Tudo é moldado, ajustado conforme as necessidades e o correcto sobrepõe-se ao real.  
    Gosto de pensar que as máquinas não trazem peças sobresselentes. São fabricadas num número exacto para o que são necessárias. Então, se o mundo é uma grande máquina, eu sou necessário. Não existem peças sobresselentes. Limito-me a pensar que amanhã o dia nascerá novamente e terei novamente vinte e quatro horas. A minha companheira ficará comigo e, quem sabe, um dia sinta que sou uma peça sobresselente e o suicídio me leve. Julgo que esse dia está próximo, na realidade.
      A vida é uma miragem longamente infeliz, com pequenas intermitências de felicidade irreal. Mas eu já consigo ver o horizonte. Distante. 

 

6 de janeiro de 2012

Desabafo.


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Por vezes a solidão disfarça-se de amor, de conforto. Assim ela torna-se uma melhor amiga, um amor adolescente, puro e louco, um abismo de suicida. Ela, e só ela, faz-me temer a vida e, tal como um velho espírito sem forças, a morte. Faz-me temer a morte por aqueles que amo, não pelos que me amam. O egoísmo é outro dos sentimentos dominantes no meu íntimo. Muitas pessoas julgam-me melhor do que realmente sou; outras julgam-me bastante pior, criando uma imagem fictícia de mim. Nenhuma das duas é boa. Quero passar pelo que sou apenas e gostava que me julgassem apenas por isso, por o que sou.
Ouve muitas mudanças em mim. Agora, os sucessivos ataques de melancolia transformaram-se em falsos sorrisos, como uma armadura, como uma mascara. Tenho saudades do que fui e não serei mais.
Nos últimos tempos pensei bastante. Faço de conta que o barulho gritante do silêncio é a respiração da Terra, do todo, à qual eu faço parte. Dessa forma, sinto-me como se fizesse parte de algo. Dessa forma, nunca me sinto sozinho.