17 de dezembro de 2011

Desta vez, não!


- Desculpa, eu sei que errei.
- Segura neste copo.
- Sim?
- Manda-o ao chão.
- O quê? Estás doido?
- Não. Manda-o. Depois pede-lhe desculpa e vê se fica inteiro novamente.

Fui durante muito tempo cego, mas acabou. Chamei-te de melhor amigo. Mas hoje não passas de uma desilusão. 

13 de dezembro de 2011

Olhar Sombrio - Parte 1.


O dia era chuvoso, como que todos os anjos renegados chorassem pelo blasfémico pecado da indiferença. A cor do céu era semelhante às filas de sepulturas que estavam ali perante eles. Via-se uma fina camada de nevoeiro até a linha do horizonte, sem que um único vestígio de esperança se fizesse sentir perante o clima melancólico fortemente imposto pelos gritos agoniantes dos espíritos marcados pela revolta.
Saphira, tivera completado a maioridade no dia anterior, os seus dezassete anos. Possuía uma beleza inumana, pálida como a neve de Dezembro, um corpo esguio e perfeitamente moldado pelas curvas femininas demasiado belas para uma simples mortal. Os seus olhos eram de um azul tão inocente como o céu do paraíso, rodeados de uma carregada maquilhagem negra e os seus cabelos eram de um negro tão sombrio como breu, de um liso perfeito, acariciando-lhe o corpo até às ancas. A face estava agora com uma marca negra resultante de uma lágrima derramada. A sua beleza sobrenatural era completamente contrária aos seus sentimentos, esses de uma humanidade extrema, de uma tristeza sepulcral.
Trevor, vivia agora os seus confusos quinze anos. A ele, não era a beleza que o fazia destacar-se. Era a sua inteligência, o seu olhar expressivo. Um olhar que daria esperança, certamente, a qualquer alma com uma réstia de vida. Transmitia a beleza humana. A beleza do pensamento, do sentimento e da natureza. A beleza de um ser sofrido, um ser com sonhos, com esperança. O seu cabelo encaracolado de um castanho vivo, chegava-lhe aos ombros e o seu corpo era mediano. Não era sensual, apenas belo.
Os olhos inocentes de Saphira interceptaram-se com a esperança emanada pelo olhar de Trevor. Ambos eram sofridos, de maneiras diferentes, por razões distintas. Ela tinha o olhar de quem sonhava mudar a humanidade. Ele tinha no olhar uma esperança inequívoca de que a humanidade mudasse. Os seus olhares prenderam-se um ao outro de forma inexplicável. Era, para ambos, a primeira vez que o calor da compreensão lhes dançava na alma.
Nesse momento, o coração de Saphira acelera compulsivamente e o respirar de Trevor silencia-se como se o ruído da respiração ameaçasse arruinar aquele momento.    
Nesse instante, um ameaçador trovão quebra a escuridão instalada naquele jardim mortuário e a chuva começa a cair compulsivamente.